sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Morte e desespero focados no espetáculo Women’s


São Bento do Sul – Uma bela jovem de 26 anos nua e deitada imóvel sobre uma mesa. Outra bela mulher de 24 anos faxineira do necrotério. Esse é o cenário encontrado pelo público em Women’s, apresentado domingo à noite na Sociedade Bandeirantes. O público de 80 pessoas superou as expectativas da própria Fundação Municipal de Cultura e mostrou que há espaço para teatro com mensagens adultas e não apenas comédias na cidade.

Lara Matos faz o papel do cadáver de uma mulher, enquanto Ana Luiza Fortes precisa colocar toda sua experiência como atriz para prender a atenção do público no monólogo. A única interação entre as duas é quando a faxineira mexe no corpo de Lara. Ela conta um pouco de sua história de vida, a qual envolve a irmã, o cunhado e um vizinho.
“No original, a moça conta a história a um policial”, conta o diretor André Carreira. Coube a ele fazer a adaptação do monólogo do argentino Daniel Veronese. Pelo papel de faxineira já passaram três atrizes. Ali não há uma liberdade tão grande para a construção da personagem.
“É exaustivo remontar os movimentos e depois construir a personagem em cima de algo já existente”, conta Ana Luiza. Depois de um certo tempo, precisa construir a própria lógica no papel sobre os gestos. Mesmo com essa restrição da personagem já criada, o espetáculo não tem uma rigidez onde precisa ser apresentado exatamente de uma maneira. “Temos liberdade para criar e recriar movimentos em cena, mas o texto é o original”, observa.

Confiança
Para Ana, existe um trabalho de muita confiança entre as duas atrizes. Apesar de Lara não falar uma palavra em cena ou mesmo se mover por conta própria, há um diálogo entre elas. “Eu sei quando ela está mais tensa, por exemplo”, admite Ana. Natural do Rio de Janeiro, Ana Luisa morou em São Bento do Sul até os 9 anos, depois seguiu para Joinville e hoje reside em Florianópolis.
A própria montagem foi feita quando o Grupo (E)xperiência Subterrânea passava por um momento de crise. Conforme o diretor, a dramaturgia de Daniel Veronese trabalha com imagens perturbadoras. A partir disso surgiu a ideia também de transportar o monólogo para um necrotério. “Adaptamos a situação, mas o texto está igual”.

Técnica
Ana é recém formada em teatro pela Udesc e Lara faz mestrado na área também pela universidade estadual. Em alguns momentos, a atriz que interpreta a morta tem o corpo jogado ao chão, virado e atirado para os lados. Nada disso seria possível sem muita técnica e ensaio.
Lara assistiu a peça quando tinha 16 anos e hoje já ouviu algumas pessoas comentarem sobre a recriação do cadáver. Lara e Ana conversaram com atores de Rio Negrinho e São Bento durante workshop ontem de manhã, na Escola de Música Donaldo Ritzmann. Para conseguir cair da mesa sem se machucar e fazer todas as movimentações conforme a coordenação de Ana, Lara fez uma preparação corporal especial. Ela é dançarina e isso ajuda. “Sobre a respiração, descobri sozinha como fazer para deixá-la o menos perceptível possível”, conta.
O relaxamento é imprescindível. Nascida no Paraná e criada em Joinville, a jovem atriz demonstrou com um exercício prático que quanto mais relaxado o corpo está, menos pontas ele apresenta na hora da queda. Também há um trabalho no abdômen para ajudar a outra atriz a ergue-la. “Seria muito peso pra Ana erguer sozinha, mas eu tenho de fazer força e não tencionar, pois isso traria o corpo ainda mais pra baixo”, explica. Junto ao relaxamento, está a concentração. Hoje, o grupo apresenta o espetáculo em Lages.

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