sexta-feira, 23 de março de 2012

Um olhar diferente às produções

Esta semana o Incartaz inicia uma nova fase. Após levantar a questão entre artistas da região e de outras partes do estado, tentaremos aqui iniciar algo novo na região: a crítica de arte. Em sentido estrito, a noção de crítica de arte diz respeito a análises e juízos de valor emitidos sobre as obras de arte que, no limite, reconhecem e definem os produtos artísticos como tais. Envolve interpretação, julgamento, avaliação e estética.

Em recente entrevista ao Folha do Norte, o escritor Gilmar Voltolini falou sobre a preparação da região para receber críticas e sobre a necessidade de tê-las. Muitos artistas locais estão acostumados a ouvir apenas elogios sobre suas obras, sejam elas no campo da música, do teatro ou das artes plásticas. O objetivo da crítica, diferente do que se pensa, não é “falar mal” de determinado trabalho, mas sim apontar falhas encontradas e pontos negativos, sem esquecer dos positivos. Dessa maneira, levar ao artista um olhar diferenciado sobre obra a fim de que ele busque sempre melhorar. Como iremos melhorar se ouvimos apenas que nosso trabalho é lindo e maravilhoso? A crítica em si também não se propõe a ser destrutiva, apesar de que alguns críticos preferem seguir por essa linha.

Embora distintos, os campos da história e da crítica de arte encontram-se imbricados; afinal o juízo crítico é sempre histórico, na medida em que dialoga com o tempo, e a reconstituição histórica, inseparável dos pontos de vista que impõem escolhas e princípios. As meditações sobre o belo, no domínio da estética, alimentam as formulações da crítica e da história da arte.

Numa acepção mais geral, escritos que se ocupam da arte e dos artistas são incluídos na categoria crítica de arte, como é possível observar nos dicionários e enciclopédias dedicados às artes visuais. A história da arte compreende a história da crítica, dos estudos e tratados que emitem diretrizes teóricas, históricas e críticas sobre os produtos artísticos. Nenhuma crítica que se preze também é feita no “achismo”, para tanto, o crítico busca estudos teóricos e de especialistas a respeito de determinada arte. E para iniciar mais esta trajetória, nada melhor que o teatro, pois esta semana se comemorou o Dia Universal do Teatro e, semana que vem, será o Dia Mundial do Teatro.

Finfo não chama atenção para si
Segundo a professora da USP Ana Maria Amaral, teatro de animação trata do inanimado, por isso poderia ser também chamado de teatro inanimado. Teatro do Inanimado é um teatro onde o foco de atenção é dirigido para um objeto inanimado e não para o ser vivo/ator. Objeto é todo e qualquer matéria inerte. Em cena representa o homem, ideias abstratas, conceitos.

“Uma canção para Finfo”, da Cia Caravana do Sonhar, de São Bento do Sul, propõe um jogo interessante. Não tem a pretensão de ser teatro inanimado (ou de animação, como preferirem), mas trabalha com bonecos. As formas inanimadas que ganham vida pelas mãos dos atores Alessandra Nascimento e Rafael Padawan são simples, não possuem rostos específicos e nem precisam, pois o foco não são eles exatamente, mas a história em si.

A proposta da companhia sequer se propõe a uma peça teatral propriamente dita, mas sim ao universo da contação de histórias. A mescla de linguagens brinca com esse jogo e deixa o espetáculo atrativo e consegue prender a atração do público alvo: as crianças. A arte de contar histórias é uma prática milenar que teve início desde os primórdios da humanidade por meio da tradição oral, sendo intensificadas na Grécia Antiga e no Império Árabe. Essa arte amplia o universo literário, desperta o interesse pela leitura e estimula a imaginação pela construção de imagens interiores. Apesar de um pouco crus pelo espetáculo ser novo, Alessandra e Padawan dominam a contação de histórias com o uso de instrumentos musicais e atuações características, ao incorporar as personagens mesmo sem os bonecos. Pela expressão e marcação afinada, fica claro quando os atores interpretam os contadores e quando estão na pele das personagens. Mesmo com simplicidade, os bonecos também chamam a atenção, em especial Finfo com o cabelo arrepiado após tomar um choque elétrico. Único peso desfavorável na história é o excesso de problemas que fazem a família ficar feliz… mas nem tanto. Ainda assim, a crítica intrínseca sobre o valor da família diante de um cotidiano corrido e corroído, precisa ser respeitada.

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