sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Capitão América – a política por trás do herói

Joinville


Texto e fotos: Jean Knetschik



“Para o alto e avante” é uma frase imortalizada por Super Homem. O herói de quem o jornalista Pedro Henrique Leal defendeu em sua monografia na última semana, em Joinville, também veste as cores da bandeira norte-americana, a exemplo do homem de aço, mas é bem mais complexo que um extra-terrestre vindo do Planeta Kripton. Leal faz uma análise política do herói conhecido por causa do seu escudo redondo com uma estrela no meio: o Capitão América.

Mas porque falar disso no InCartaz? Simplesmente porque o Capitão América é um herói que passou pela infância, adolescência e permanece na vida de muitos ainda hoje. Mesmo aqui na região.

Criado por Joe Simon e Jack Kirby, em 1940, a primeira aparição do personagem ocorreu na revista Captain America Comics #1, da Timely Comics. A revista conta a história de um rapaz franzino e com problemas de saúde, que deseja de qualquer forma participar dos esforços estadunidenses para vencer a Segunda Guerra Mundial. Ao ter seu alistamento recusado, ele deixa claro estar disposto a fazer qualquer coisa para ajudar na guerra. Esse "qualquer coisa" é tão literal que ele se torna parte de um experimento para a criação de soldados superiores em tudo: o "projeto supersoldado", o qual consistia em um soro especial e a radiação de raios gerando um crescimento físico geral, tornando um ser debilitado como Steve Rogers em um superatleta musculoso, forte, veloz e ágil. Contudo, como na equipe do projeto havia um agente duplo a serviço de Hitler, o cientista que criou o "soro do supersoldado" é morto por esse agente. Sem registro escrito da fórmula, essa se perdeu junto com a vida do cientista e Steve Rogers se torna o único daquilo que deveria ser um exército de supersoldados. Com o fim da Guerra, os executivos da Timely Comics decidiram suspender as histórias do personagem.

O Capitão América nasceu justamente com o intuito de representar os EUA contra o mal iminente, ou seja, o nazismo da época. Mais tarde, em 1964, a Marvel, empresa responsável pela criação da personagem, reviveu o Capitão América ao revelar que ele tinha caído de um avião experimental no Atlântico Norte nos últimos dias da guerra e que passou as últimas décadas congelado, num estado de morte aparente (animação suspensa). O herói ressurgiu com uma nova geração de leitores como o líder de um grupo de super-heróis conhecido como os Vingadores (The Avengers #4, publicado em 1964).

Mas o Capitão América tomou proporções tão heróicas que chegou a enfrentar o próprio governo dos EUA. “Em uma revista, ele chega a dizer que o verdadeiro terrorista é o Governo dos Estados Unidos”, cita o jornalista.

O Capitão América deixa de ser o herói do governo para ser um verdadeiro herói. Questionado se, na época em que praticamente se disse contra o governo, o Capitão América poderia ser considerado um anti-herói, Leal é objetivo e garante: “Não. Ele é um dos poucos heróis verdadeiros. Ele é o Capitão América 24 horas por dia”.

Em 1987, a Marvel criou o herói Agente Americano, o qual vestia uma bandeira dos EUA, literalmente, ou um uniforme idêntico ao do Capitão, mas com a cor preta em substituição à azul. “Enquanto o Capitão América original é patriótico, porém crítico do seu país – e muitas vezes posicionado abertamente contra – Walker representa outra forma de patriotismo: o nacionalismo ufanista, desprovido de razão crítica. Ao longo de seus 25 anos de publicação, Walker se recusou a cogitar a possibilidade do governo estar errado, e em suas primeiras histórias como o Capitão América, quase serviu como um peão do Caveira Vermelha (principal vilão do Capitão América) justamente por esta falta de senso crítico. Porém esse caráter de crítica ao patriotismo cego foi atenuado quando passou a ser escrito por outros autores além de Gruenwald”, cita Leal na monografia.

A dificuldade em conseguir publicações e análises sobre a personagem foram grandes, pois a maioria dos estudos brasileiros feitos sobre personagens até hoje trataram do Batman. Devido ao esforço e dedicação de Leal, a monografia recebeu uma nota 10 dos professores Sílvio Melatti e Maria Elisa Máximo. “Se não há publicações que analisem o Capitão América, este trabalho tem fortes chances de servir de base a novas pesquisas”, afirma Melatti. A nota do trabalho que garante a Leal a formação em Jornalismo? Dez.

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