terça-feira, 17 de maio de 2011

Semana Nacional dos Museus II

São Bento do Sul

Mais que um casarão antigo ou um museu onde são depositadas peças antigas, o Museu Histórico Municipal Dr. Felippe Maria Wolff mexe com a imaginação da comunidade. Estórias e lendas são contadas envolvendo o casarão. Algumas até mesmo com certo embasamento histórico.

A mais conhecida delas é a existência de um túnel sob o museu. Conforme Carlos Campestrini, curador, não há sequer vestígio da existência do túnel. As versões para a lenda urbana são várias. A mais plausível dá conta de que o túnel ligaria o museu ao Arquivo Histórico, outras apontam uma distância maior.

Também próximo, o túnel levaria ao rio São Bento, mas quem criou a estória não levou em consideração o aumento no nível do rio com as cheias. Há quem garanta que o túnel seguia até o hospital ou até a Sociedade Bandeirantes. Muitos esquecem que, onde atualmente funciona o Breithaupt existia um posto de combustível e o tanque impediria a existência do túnel.

“A primeira coisa que fiz foi procurar o túnel quando assumi o cargo”, conta. No Arquivo Histórico também não há qualquer sinal da lenda ser verdadeira. Para Campestrini, caso existisse, já teria aparecido. Ônibus manobravam ali perto, pavimentação de lajotas foi instalada e o arquivo histórico recebeu um reforço no fundamento. Em qualquer desses casos, o túnel poderia ter dado sinal de existir.

Segundo o curador, ao final do século 19, o médico Felippe Maria Wolff, proprietário do museu na época, alugou um casarão na Lapa, por conta da Revolução Federalista, para transformar em consultório. No local, existe um túnel, hoje lacrado por questões de segurança, o qual ligava o consultório ao teatro. “Por ter sido a residência do médico sede do governo catarinense em 1893, se espera que existisse um túnel, como na Lapa”, revela.

O médico que dá nome ao museu nasceu no Reino da Bavária, em 6 de junho de 1835. Formado em medicina pela Universidade de München, em 1860, migrou para o Brasil oito anos depois. Foi escolhido para ser o médico dos primeiros colonos da ainda vila de São Bento.

Como exerceu cargos públicos (vereador, conselheiro municipal, delegado de polícia, delegado de higiene e chefe escolar) auxiliou na Revolução Federal do século 19. A residência onde morava em São Bento, construída na década de 1880, serviu de instalação para a sede do governo de Santa Catarina e Quartel General dos Revolucionários. Wollf morreu em 1910 e está sepultado no Cemitério Municipal.

Alguns garantem que ele era nazista. A teoria é facilmente desmentida, pois o médico bávaro faleceu quatro anos antes da 1ª Guerra Mundial e o nazismo surgiu apenas na 2ª Grande Guerra. Estórias dão conta ainda de que a torre existente no imóvel, construída em forma de castelo, serviria para ele atirar nos inimigos. No entanto não há sinais disso ter acontecido. Se a ideia do médico era disparar contra alguém, poderia fazê-lo das janelas existentes nos quatro cantos do cômodo e não do alto da construção.

Em alguns pontos do andar térreo há dois cômodos divididos por colunas dóricas e frontões que obedecem à simbologia maçônica. Na sala de música, outras duas colunas idênticas encostadas à parede representam um altar. Portas e janelas contam com sinais maçons. “Talvez a torre seja outra ligação à maçonaria”, sugere Carlos Campestrini.

A transformação da residência em museu coube ao pesquisador Álvaro Guerreiro Krüger. Ele reuniu, junto às famílias são-bentenses, peças trazidas pelos imigrantes da Bavária. Atualmente o acervo conta com cerca de 1,9 mil peças, desde artigos de cozinha a instrumentos musicais e armas.

Com a nova administração, foi criado um espaço específico para recuperação e restauração das peças na reserva técnica. Elas já são depositadas e armazenadas em plástico bolha para evitar danos. A mesa instalada em sala fechada foi ideia de Campestrini. Ali uma placa de compensados é colocada quando se utiliza materiais como óleo e é retirada para a recuperação de peças delicadas, a exemplo de roupas e tecidos. Muitas peças ali armazenadas servem para reposição do acervo. “Temos muitas máquinas de costura e fazemos um rodízio entre elas”, afirma.

A inauguração do museu se deu no início da década de 70. Ao longo dos anos, o casarão sofreu modificações, como o papel de parede que deu lugar à tinta, e até o teto modificado com a eliminação de uma janela no piso superior. O prédio é tombado como patrimônio histórico.

Entre as peças existe o mostruário de chocolates Buschle, com peças de gesso feitas nos mesmo moldes usados para os doces. A fábrica de chocolates são-bentense era a mais antiga da América Latina. Os 18 cômodos da casa são divididos em temas e logo serão nomeados. As sugestões podem ser feitas pela comunidade, como será a votação.

A neta de Álvaro Krüger já entrou em contato com o museu por telefone para sugerir o nome do avô para uma das salas. “Ela ficou de enviar um e-mail com a sugestão”, observa o curador. O lançamento oficial do projeto será às 20 horas de hoje.

No piso superior está o baú que servirá como Cápsula do Tempo. O projeto visa abrir o objeto daqui a 20 anos. Até o momento, apenas uma senhora levou um envelope com uma carta contando como está a cidade hoje e algumas fotos. A expectativa é que os munícipes agilizem a doação de itens para preencher o baú. O fechamento da cápsula será às 20 horas de sexta-feira. São aceitas fotos, notas fiscais, aparelhos eletrônicos, entre outros. “Dependemos apenas do espaço do baú, mas aparelhos eletrônicos, como celulares, são os mais interessantes, pois a tecnologia evolui muito rápido”, admite. O museu está aberto a visitações das 9 às 12 horas e das 13h30 às 17h30. De terça-feira a domingo e em feriados. O prédio fica no centro, ao lado do terminal urbano de passageiros.

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