quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Entrevista com Russo

Rio Negrinho

Na sexta-feira (19), o público rio-negrinhense pôde acompanhar o talento do músico Russo. O multinstrumentista provou para quem quisesse ver que tocar guitarra, pandeiro, percussão e gaita de boca ao mesmo tempo por uma única pessoa é possível. Antes da apresentação na Dubai Lanches, o artista concedeu entrevista exclusiva ao Em Cartaz.

Em Cartaz – Como você iniciou no mundo da música?
Russo – Comecei com 11 anos. Minha mãe me colocou na escola. Fiz um ano de aula e parei. Minha mãe morreu e parei de tocar, pois foi muito chocante. Com 17 anos comecei a tocar novamente. Fui tocando em bandas de bailes, fazendo um som alternativo em barzinhos e um dia o country falou mais alto, assim como o rock. Clássicos da música, interioranos que vão para a cidade grande fazer sucesso, esse rock rural. Dire Straits, country music, rock rural, rock do interior. Esse estilo folk, rock, country, blus, blue bass que é um country rápido e toquei todos esses estilos. Até que um dia achei que devia colocar instrumentos a mais no som e comecei a fazer som com isso, foi pra mídia e explodiu.

EC – Qual o papel da grande mídia hoje na divulgação do rock alternativo, sendo que, atualmente, ela está focada no funk, pagode e sertanejo universitário?
Russo – Mídia deve ser um porta-voz da arte e ela tem que ter muita responsabilidade e cuidado para o que se projeta no mercado e vão formar opiniões. Fazer com o que o jovem tenham uma base sólida forte de cabeça, ideologia de vida, de roupa e a música dita regras e normas da sociedade, desde o passado quando disseram que “chega de guerra” e ditou a moda desde os anos 70 pra cá. Esse tipo de coisa a mídia deveria fazer e não faz, ela projeta independente do que seja e qual seja, o dinheiro para se extrair dessa posição melhores estruturas para seus prédios. Se a mídia pensasse de outra forma, os artistas poderiam pensar mais no lado artístico, culturalmente falando. Usa-se arte para passar algo de bom, é um canal para isso e não passar algo qualquer apenas para ganhar dinheiro. A mídia pôde me projetar, eu só precisei gritar um pouco mais, cantar um pouco mais e dizer “estou aqui”. Crianças estão no meu show, pais trazem os filhos. Arte tem de ser canalizada de forma correta ou ela passa a ser uma arma letal. Muitas se perderam no caminho, devido muitas coisas erradas que se projetaram. Grupos que surgiram e encaminharam várias meninas pro caminho até da perdição e isso aconteceu demais, culpa da mídia.

EC – De onde surgiu a ideia de você se tornar um multi-instrumentista?
Russo – Nunca imaginei que pudesse fazer um som diferente e nem queria ser eu a diferença, mas fechando os olhos pensei em ouvir algo a mais, um pandeiro, uma gaita, tirar do instrumento o lado percussivo, esse tipo de coisa. Até bumbo eu coloquei no pé, fui testando até chegar ao pandeiro, porque tiro o bumbo da guitarra e foi parte a parte. Testei na noite e foi uma surpresa, muitos na época ainda não tinham uma certa cultura para entender isso, mas foi água mole em pedra dura e furou, estou aqui.

EC – Essa é a primeira apresentação em Santa Catarina?
Russo – Sim. Por conta de agenda e projetos. Eu não vou aonde não sou convidado. Abriu a porta da sua casa que eu entro. Estou muito feliz porque é um presente tocar um público assim que gosta desse contexto porque a mídia não empurra qualquer coisa para esses caras, comem só do que é bom.

EC – Teu som se baseia nas músicas internacionais. No rock nacional muitos dizem que é melodicamente pobre. Qual sua opinião?
Russo – Existe uma forma de se fazer um rock de linguagem simples, quadrada e perfeita ao mesmo tempo. Beatles era maravilhoso tocando três acordes só que, musicalmente falando e de ordem de mídia muitos não passaram a história para fazer um som que fosse de certa qualidade e vai cair na malha fina das pessoas que gostam de coisa boa, inevitavelmente. Uma judiação uma pessoa que não sabe se portar diante da câmera e explodiu porque a mídia viu o dinheiro a se ganhar com aquele. Falta de maturidade em tocar um instrumento, se portar diante ao público, em linguajar, postura artística, musicalidade e não se existe mais fazer uma trajetória, existe sim dar dinheiro ou não. Às vezes faz música com dois ou três acordes assim: (canta o refrão de “Holding Back the Years” do Simply Red), com apenas duas notas a música inteira, é um sucesso e são coisas boas de ouvir que tem musicalidade, harmonia de notas, arranjos. O que é pobre é não fazer os enfeites para uma árvore de natal. Quando é uma árvore chucrinha fica árvore qualquer. Pega uma música com dois ou três acordes, mas você faz um lindo trabalho e fica linda. Para isso precisa história, estrada, musicalidade, pessoas que sabem mexer e fazer se não fica essa má fama.

EC – Deixamos o espaço para você.
Russo – Eu quero agradecer ao jornal A Gazeta por estarem aqui como mídia, impulsionando a frente, não o que eu acho que é melhor, porque não sou dono da razão, mas o que inevitavelmente é história, é contexto, é cultura. Isso não é falar de mim, é falar do que eu fiz e de onde eu passei. As conclusões que vão tirar de mim eles (público) quem vão tirar não sou eu quem vai falar. Agradecer a todos que estão aqui hoje o David, o Pantufa, o Tio Barney, o Josi, porque se tornam mais uma família que eu ganhei.

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